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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Histórias: Josef Mengele e os Ursus

- Qual a relação entre o médico considerado o "anjo da morte" dos campos de concentração e os tratores poloneses Ursus da década de 50? Bom ao menos pra mim uma curiosa e engraçada história que segue abaixo...


- Na maioria das áreas agrícolas do Brasil, na década de 50, de acordo com o revendedor ou a região do estado, ou até mesmo pela etnia dos imigrantes, podiam ser vistos tratores de diferentes marcas em algumas cidades e em outras não. Em Piracicaba-SP era comum se ver muitos tratores italianos Landini, marca que aqui em Itápolis não chegou a ser comercializada e poucos ouviram falar na época. Em colônias de japoneses o comum era se ver tratores pequenos, como Ferguson, ou o Ford. Os alemães davam preferência as marcas de sua terra, e muitas vezes empresas de renome como a Ford, ou a International Harvester, dominavam a venda em grandes quantidades e tinham presença na maioria das propriedades devido a suas agências e assistência técnica em várias capitais.

- Aqui em minha cidade Itápolis, interior de São Paulo, não foi diferente. Mesmo tendo colonização predominante de italianos, devido a um imigrante europeu tivemos a presença de tratores da marca URSUS, importados da Polônia, mas que talvez na época vinham em algum acordo com a antiga U.R.S.S., gerando aqui a primeira confusão das pessoas entre o nome do trator e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, dizendo a maioria serem tratores Russos.

- Este senhor, de nome "abrasileirado" Stanislau, se chamava na verdade Missislawa Kinestautas, e foi o responsável por trazer para a cidade mais de uma dúzia de tratores Ursus entre o final dos anos 50 e início dos anos 60. Como estes tratores eram bem diferente da maioria, com motor de um pistão de 12 litros, e ciclo dois tempos, naquela época em que carros e caminhões já seguiam o padrão do motor de cilindros em linha de ciclo quatro tempos, o Stanislau e os novos proprietários dos Ursus logo ficaram de uma certa forma famosos, pois qualquer um saberia apontar quem tinha um trator diferente como aquele.

- E o tempo passou, os Ursus cumpriram seu papel na lavoura, muitos já se tornaram velhos e usados e assim eram comercializados pelos agricultores, e poucos mecânicos da cidade sabiam ou arriscavam consertá-los. Mas e o Stanislau? Até onde deduzi, ele deu manutenção nestes tratores enquanto ainda eram novos, recém vendidos, por um período de uns cinco anos talvez, pois infelizmente (não sei ao certo quando) descobriu estar com câncer e cometeu suicídio. Ele era casado e não tinha filhos, sua esposa logo se mudou e vendeu a casa e a oficina ao lado, como se diz por aqui "de porteira fechada", para um senhor de apelido Português, que até hoje mora no local. 

- Nesse período algumas oficinas como a do Lucatto e a do Brunelli eram as que davam manutenção nos Ursus aqui em Itápolis. Um deles foi comprado usado junto com um lote de outros Ursus,  e vendido para meu avô, sendo o trator que herdei e restaurei em 2007 - tratoresantigos.blogspot.com.br/2011/05/ursus-c-451-1959.html. Durante e até depois da reforma, tentei conversar com antigos proprietários, donos de oficina, mecânicos, tentando reunir informação, fotos e até algum material da época, mas como quase 50 anos haviam se passado, não tive muito sucesso.

- Em uma de minhas conversas, fiquei sabendo do infeliz acontecido com o Stanislau e da venda de sua casa ao sr. Português, e então fui até lá tentar encontrar algo. Expliquei a ele que procurava qualquer informação sobre os tratores que o Stanislau vendeu, e foi assim que soube da relação dos Ursus com o doutor da morte Josef Mengele.

- O médico alemão após o fim da Segunda Guerra, fugiu da Alemanha e se refugiou primeiro na Argentina, onde um companheiro seu foi localizado. Ele fugiu então para o Paraguai e depois entrou no Brasil sempre usando nomes e documentos falsos. Em sua passagem pelo país Josef Mengele chegou a residir em cidades como Assis, Marília e Nova Europa, esta última que fica a uma distância de 40 quilômetros aqui de Itápolis.

- Muitos dizem que Josef Mengele e o Stanislau eram amigos, e se encontravam frequentemente. Alguns falam até que Mengele chegou a morar aqui em Itápolis, mas informações sem certeza nenhuma. O período era de ditadura militar, muita severidade, muitas pessoas começaram a investigar a vida de Mengele no Brasil após sua morte em 1979, e assim repórteres, ou somente curiosos começaram a bater à porta da antiga residência do sr. Stanislau a procura de informações de seus encontros com o médico alemão.

- Nisso, em pleno ano de 2010, perguntei ao sr. Português se quando ele comprou a residência e a oficina do Stanislau, ele não se lembrava de haver manuais, catálogos, fotos ou qualquer coisa a respeito dos tratores Ursus. Nisso ele me respondeu: "Olhe tinha sim... tinha um baú grande, com muitos papéis, fotos, diários, documentos, etc... Nisso muita gente vinha aqui perguntar do Mengele, do Stanislau, e como era aquela época de ditadura, eu fiquei com medo, levei o baú no quintal, joguei gasolina e taquei fogo!!!" 

** Esta é apenas uma história que contei juntando informações de minha cidade, pode ser que muitos fatos estejam errados ou não existam.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Histórias: A historieta do TORNA-PÓ

- História e imagem retiradas do blog do cientista social e pesquisador sr. Adalberto Day - adalbertoday.blogspot.com.br, com pequenas alterações no texto.

"Apresentamos hoje mais uma crônica belíssima, com o renomado Niels Deeke - Memorialista em Blumenau:

Um Colossal e ciclópico engenho que, em 1952, escavou o solo de Blumenau. A historieta do ¨ TORNA-PÓ ¨ - um trator gigantesco, adquirido por Hercílio Deeke para a Prefeitura de Blumenau e que então deslumbrou-nos pela versatilidade das funções desempenhadas.

Transcorria o ano de 1952, quando foi adquirido, pela Prefeitura Municipal de Blumenau, um enorme trator com duas lâminas desbastadoras, uma dianteira e outra central, dotado de escarificadores, cilindros compressores - liso e denteado - e, ainda no intermédio da imensa estrutura, possuía a caçamba transportadora para cerca de seis metros cúbicos de terra. Movimentava-se sobre descomunais pneus que superavam a estatura de pessoa com 02 metros. O peso do monstrengo era tanto (Aprox. 40 toneladas) que para trazê-lo, apesar de desmontado em duas partes, do porto de Itajaí à Blumenau, foi necessário escorar diversas pontes da antiga estrada estadual ligando as duas cidades e, mesmo assim, a “Ponte das Canas”, ainda construída em madeira e que situava-se no limite entre Gaspar e Ilhota, foi irremediavelmente avariada e logo substituída, quando as despesas correram por conta da Prefeitura de Blumenau. Naquela época Ilhota ainda era distrito de Itajaí e então o Prefeito de Itajaí – Sr. Paulo Bauer precisou deslocar-se diversas vezes até os locais das avarias para acertar em conjunto com Hercílio Deeke os consertos necessários, pois o Estado eximiu-se de custear os reparos, cuja responsabilidade certamente cabia à Prefeitura de Blumenau. 

Sua marca era “LE TOURNEAU”, foram muito utilizados na construção das grandes rodovias – os chamados tratores transportadores com emblema “Euclid”. (Euclid Road Machinery Co.). O modelo importado pela P.M.B. (zero km) era denominado “ Tourna-Pull ” (Pull = de arrasto), denominação que continha expressão mista franco-anglicana e a qual os operários da prefeitura., transliterando a pronúncia do exótico termo, chamavam de “ TORNA-PÓ ”, em razão de não conseguirem articular aqueles vocábulos exóticos.
Observe-se que naquela época todo e qualquer serviço de Oficina, manutenção, consertos e reparos, dos veículos e máquinas da P.M.B. eram executados pelos mecânicos funcionários da prefeitura e no próprio recinto desta, em oficina adrede localizada nos fundos do Paço Municipal.

Posta em ação, rapidamente a potente máquina ¨Torna-Pó¨, demoliu o restante do antigo Morro dos Padres . Os terrenos que serviram para abrigar o “Parque de Diversões” construído especialmente para os festejos do “Centenário de Blumenau”, foram, então, definitivamente aterrados, bem como parte da depressão da lavoura dos padres, e ainda procedido o alargamento das ruas adjacentes. O trator, cerca de dois anos após a conclusão da remoção do morro até o ponto em que atualmente se encontra escavado e de ter alargado ruas na “Fortaleza” e Itoupava Norte, com destaque ao aterro e construção da galeria na foz do ribeirão da Toca da Onça na atual rua das Missões, bem como do leito desta, e do “Morro da Maternidade”, foi vendido em razão da absoluta impraticabilidade de seu emprego na continuidade dos serviços locais, cujas peças de reposição, por não haverem disponíveis no país, precisavam ser buscadas pessoalmente por funcionário da prefeitura no Uruguai, além de, no município, só haver um único tratorista capaz de manobrá-lo.

A máquina consta nos relatórios administrativos de Hercílio Deeke, ano 1952, página 18 como “Tournapull” modelo D. Roadmaster , adquirido por Cr$ 521.000,00, e, sem dúvida, naquele época, foi um “gigante na abertura das estradas de Blumenau”, além de ter sido, então, o maior dos complexos buldôzeres utilizados na abertura das estradas em Santa Catarina, razão porque é estranhável que administrações municipais bem mais recentes, numa época de tamanha tecnologia, não tenham se interessado na aquisição de tais rasgadores de estradas como este.

O Super Trator da P.M.B. - o monstrengo para a época - Le Tourneau Pull, - operando, por volta de 1952/53, na Rua Itajaí. O trator possuía outros equipamentos acopláveis que não constam da foto, como os escarificadores de solo e rolos compressores de compactação. (foto enviada por Wieland Luckfeld).

O tratorista do ¨Torna-Pó¨, cujo nome nos escapa à memória, era muito relacionado ao funcionário da prefeitura Sr. Alcides Corrêa da Costa, originário do nordeste do país (tinha um sotaque carregado e exercia cargo de fiscalização de obras da P.M.B.). Junto com o Sr. Alcides, e com toda sua família, esposa, filhos, parentes deste e o referido tratorista do “Torna-Pó”, enfim umas doze pessoas, segui  eu (Niels Deeke) no ano de 1952, em caminhão coberto de lona, transportando uma bateira e redes de pesca para acampar nos matos da última lagoa da Praia Brava, em Itajaí. Lá ficamos desde a noite de uma sexta-feira até domingo a tarde, pescando com redes de espera as tainhotas escondidas nos profundos solapões da margem do riacho. Reporto este episódio porque, enquanto refestelados nas redes de dormir, imaginávamos como seria produtiva a pesca acaso conseguíssemos esgotar toda a água da lagoa, rasgando um sulco de vazão para o mar fronteiro, e nisso o tratorista do ¨ Torna-Pó ¨, colega naquela pescaria, brincando dizia : ¨é tudo muito fácil, é só Niels conseguir autorização do pai para trazermos o ¨Torná-Pó ¨ que em menos de duas horas faço o canal e vocês poderão apanhá-las no seco e então comer tainhas o ano inteiro ¨. Ora, pois sim !

O trator “LeTorneaupull - Roadmaster”, - Torna-Pó - foi vendido, em 1953, pela P.M.B., à empresa “ETUC” (após Entuco), empresa de engenharia e empreiteira da qual era engº o Sr. Wilson Gonçalves, do Rio de Janeiro, pelos mesmos Cr$ 521.000,00 gastos na sua aquisição."

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Histórias: O trator que transportava mudas



"Por mais de duas décadas, meu pai trabalhou como condutor, de um trator que puxava uma carreta imensa, carregada de caixas de mudas de pinheiro e eucalipto.
Sua função, era ir buscá-las, em um bairro chamado Foresto, onde uma incubadora imensa, servia de berçario a todas as mudinhas. De lá elas saiam devidamente acomodadas em caixas, e eram por ele, conduzidas para áreas imensas de reflorestamento, de uma das maiores companhia de papel, que existia naquela época.

Eu, me lembro que, saia correndo para a rua, quando ouvia o ronco barulhento do trator que meu pai conduzia.
Me sentia muito importante, em minha simplicidade de menina do interior, quando ele me deixava subir ao lado dele, e passear alguns poucos quilômetros no famoso trator.
Ao lado de meu pai, em cima do barulhento veículo, fui muitas vezes, levar as tenras mudinhas de árvores de natal, como eu sempre as nominava, de uma vila pra outra. E quantas frutas apanhava nesses deliciosos passeios.
Ariticu, que hoje conheço por fruta do conde, era uma que, trazia dessas andanças, amoras vermelhas, pitanga, ameixa amarela, carambolas, e muitas mais, dependendo da época do ano.

Hoje, fico pensando, na bela profissão, que teve o meu pai. Transportava as pequeninas mudas, que com o passar do tempo, seriam imensos pinheiros ou eucaliptos.
Com sua função excercida durante longos anos, contribuiu para que muitos cadernos e livros, chegasse as mãos de tantos estudantes desse imenso Brasil.
Afinal, quem de minha geração, não escreveu as primeiras lições da escola, em um caderno fabricado pela Companhia Melhoramentos!"

Crônica do pseudônimo Lenapena, via: Recanto das Letras

- Na foto, meramente ilustrativa, o leitor do blog sr. Rodolfo Podsiadlo e seu trator, igual ao que é citado na crônica. No caso, um alemão, marca Lanz Bulldog, tema deste post do blog: Fotos Antigas: Trator Lanz Bulldog em Tapiratiba

terça-feira, 3 de abril de 2012

Histórias: O batismo da Colheitadeira

- Para provar que antigamente toda máquina agrícola era uma "novidade" quando de sua chegada, aqui vai uma belíssima história! A colheitadeira: Uma John Deere! O ano: 1956! E toda a história e fotos, que retirei da página Almanaque Gaúcho de Ricardo Chaves, segue abaixo:


 " O batismo da Jandira"


"Por volta de 1956, Lagoa Vermelha viveu um acontecimento inusitado: o batismo da primeira colheitadeira automotriz do município e uma das primeiras do Rio Grande do Sul. Sua aquisição foi uma das muitas iniciativas pioneiras do agropecuarista Heliodoro Moraes Branco (Athos), que era também oficial do Registro de Imóveis e Especial do município.
Até chegar à cerimônia do batismo, não foram poucos os obstáculos vencidos, a começar pela montagem da máquina. Ela foi importada e, enorme como era, veio desmontada. O técnico encarregado dos trabalhos de montagem era bom de mecânica, mas não tanto no inglês. Depois de algum tempo, foi substituído por outro, que era bom de inglês, mas... não tanto de mecânica.
A máquina enfim ficou pronta, sobraram algumas poucas peças, e aí surgiu o novo desafio. Levá-la da oficina mecânica onde fora montada até à Granja Passinho Fundo, do seu proprietário, a alguns quilômetros da cidade. Sua enorme largura e, sobretudo, a grande altura eram de fato problemáticas, e acabaram provocando o rompimento de alguns fios da rede elétrica.

Uma vez no local, foi feita a cerimônia de batismo, com bênção do vigário local, Frei Humberto de Flores da Cunha (no alto da máquina, ao lado da Rainha do Trigo, na foto abaixo), e garrafa de champagne (na época, podia-se chamar assim). A máquina era capaz de colher diversos tipos de cereais, mas foi comprada visando principalmente ao cultivo do trigo. A soja ainda não chegara aos campos do Rio Grande e o trigo era a grande presença nas lavouras lagoenses. Heliodoro, proprietário da máquina, aparece atrás das rodas dianteiras, de cabeça baixa.


À direita, com máquina fotográfica, está Silvano Sanson, sócio-proprietário da oficina onde a automotriz foi montada. Os outros dois sacerdotes são os freis Celestino Dotti e Fidélis Dalcin Barbosa.
Mas, por que Jandira? A máquina era da marca John Deere, mas os empregados do dono, pouco letrados, abrasileiraram o nome, mudando inclusive o “sexo” daquela maravilha tecnológica.
(colaborou Pércio de Moraes Branco)"

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Histórias: Apaixonado por trator

- A reforma de um trator, carro ou caminhão antigo, não nos dá como resultado somente o trabalho final, a reforma terminada. Durante a reforma e depois dela continuamente, fazemos amizades com mecânicos, pintores, borracheiros, eletricistas, e principalmente pessoas interessadas pelas máquinas antigas, e isso é certamente o melhor resultado final que podemos ter!

- Foi durante a reforma do trator Ursus que conheci o sr. Osires da cidade de Piracicaba-SP. Resumindo um pouco a história, foi passando na Toretta Tratores em Americana-SP que me indicaram o sr. Osires como a pessoa certa para assuntos sobre o trator Ursus. E foi assim que tive meu primeiro contato com um apaixonado por trator, não só pela máquina, mas por sua história, a mecânica, o trabalho, as dificuldades e principalmente pela paixão por passar esse conhecimento adiante.

- Obviamente o sr. Osires não estava sozinho, e sempre me falava de outro apaixonado pelos tratores, o Sr. Zico Daniel, também de Piracicaba-SP. Não conheci o sr. Zico pessoalmente, mas consegui encontrar a bonita matéria que a Revista Rural fez com ele em sua edição 130 de Dezembro de 2008. Já fazem 2 anos, e com certeza mais alguns tratores ganharam nova vida nas mãos do sr. Zico Daniel. Segue a matéria:

"NOVINHO EM FOLHA"



A paixão por tratores faz mecânico investir até 20 mil reais para revitalizar tratores das décadas de 50, 60 e 70.

O trator é uma das máquinas mais usadas no campo e deve ter muita gente que não agüenta mais trabalhar em cima de uma dessas todos os dias. Por outro lado, há quem não viva sem elas. “Eu sou apaixonado por trator”. A frase é de José Daniel, conhecido como Seu Zico. Morador de Piracicaba, no interior de São Paulo, ele é dono de uma oficina mecânica e passa a semana trabalhando com carros e motos. Quando está de folga volta para a oficina, mas desta vez para cuidar exclusivamente de tratores, e dos antigos. A maior paixão de Zico é restaurar tratores, seja de 1950, de 60 ou 70. O primeiro a ser restaurado foi um Massey Ferguson 50X, de 1972. O segundo foi um Valmet 60 ID de 1970. De lá pra cá, já foram 10 tratores restaurados. “Coloco todas as peças originais, nada de substituir por peça de outro trator, senão perde a graça”, afirma Seu Zico. Mas com certeza o trator que ele mais se dedicou foi um Ford 1951 que era do próprio pai. “Quando a gente morava na fazenda aqui em Piracicaba mesmo, meu pai tinha esse trator, um Ford 1951. Quando eu tinha 11 anos a gente saiu da fazenda e o trator ficou. Há cerca de cinco anos mais ou menos, descobri que o Ford estava parado lá na fazenda. Na mesma hora, fui até lá e trouxe aqui para a oficina”, afirma o restaurador.

Mas depois de pronta, esta não durou muito na mão de Seu Zico e um colecionador de tratores fez uma oferta pela máquina que, segundo o restaurador, era irrecusável. Roberto Machni, o colecionador, levou o Ford 1951 para Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Os outros tratores já foram vendidos para empresas e colecionadores. Hoje, seu Zico está com dois tratores prontos, um Ford 1950 e um Ford 1954.

Para deixar o trator idêntico de quando saiu da fábrica pela primeira vez, com 100% das peças originais, Seu Zico já chegou a gastar mais de 20 mil reais ao restaurar apenas um trator. “Geralmente pego só a carcaça dos tratores. A maioria das peças tem que trocar e as originais têm de vir dos Estados Unidos, então acaba ficando um pouco caro, mas vale a pena”, explica. Antes de importar qualquer peça, ele procura em ferro velhos da região para tentar achar um trator semelhante que tenha a peça em condições de reutilizá-la. Quando não encontra por aqui, Seu Zico depende de amigos e conhecidos que vão aos Estados Unidos para trazer algumas peças. Porém, outras que não há como trazer, ele importa direto da fábrica.

“Conheço outras pessoas que também fazem esse trabalho, mas ninguém que restaure o trator com todas as peças originais como eu”, afirma Seu Zico. Ao ser indagado sobre a opinião da mulher em relação aos gastos de tempo e de dinheiro com a atividade, respondeu: “Ela sabe que gosto de trator. Antes de me mudar aqui para frente da oficina era pior porque eu morava longe, mas agora é mais tranqüilo porque ela sabe que estou aqui, mexendo com meus tratorzinhos”, explica.

Atualmente, Seu Zico está restaurando um Ford 54 e já tem planos para começar um Ford 56. Segundo ele, cada trator demanda cerca de dois anos para completar o serviço. “É legal quando termino o trabalho, o problema é que começo a receber propostas pelos tratores e não tem como segurar. As máquinas que vendi para colecionadores e empresas devem estar rodando por aí até hoje”, afirma Seu Zico, que garante a funcionalidade do trator. “Esses tratores que restauro duram para sempre, é só cuidar direitinho”, explica.